“Todos os negócios dependem do trabalho de profissionais da contabilidade para serem sustentáveis”
Em uma pesquisa recente realizada pelo Conselho Federal de Contabilidade, em novembro de 2022, os empresários entrevistados responderam que profissionais da contabilidade os ajudaram em 86% das tomadas de decisões.
Na semana em que é celebrado o Dia do Profissional da Contabilidade (25 de abril) entrevistamos a presidente do Conselho Regional de Santa Catarina (CRCSC), a contadora Marisa Luciana Schvabe de Morais.
No bate-papo, a dirigente destacou os desafios dos profissionais da contabilidade frente à sofisticação do sistema tributário e dos negócios, e também do impacto dos avanços tecnológicos à atividade. Destacou que os profissionais da contabilidade são essenciais à economia, aos negócios e ao desenvolvimento, tanto no setor privado quanto na esfera pública.
Marisa é contadora, doutora em Administração e especialista em Auditoria e Perícia Contábil pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali), mestre em Engenharia da Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, professora em cursos de graduação e pós graduação, coordenadora do curso de Ciências Contábeis da Univali. Foi conselheira do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) entre 2014 e 2021, vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do CRCSC (2010/2011), membro da Academia Catarinense de Ciências Contábeis (2014 a 2021) e membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Contabilidade (RBC).
Pelo Estado – Dia 25 de abril é o Dia do Profissional da Contabilidade. Essa é uma profissão tradicional e regulamentada no Brasil há cerca de um século, mas imagino que os desafios não sejam mais os mesmos em 2023, correto?
Marisa Luciana Schvabe de Morais – De fato, hoje vivenciamos outro cenário na profissão. Temos outras demandas, outra realidade. O profissional da contabilidade precisou, ao longo do tempo, e precisa constantemente se adequar as mudanças que são de toda ordem: seja do cenário econômico do país e do mundo, seja mudanças como a convergência do Brasil às Normas Internacionais da Contabilidade (em 2010), ou por conta da interferência fortíssima das tecnologias da informação ao nosso trabalho.
PE – Qual é o papel do profissional da contabilidade para a economia?
Marisa – Eu diria que o profissional da contabilidade é determinante para a economia do país. Todos os negócios, empresas, entidades com ou sem fins lucrativos, públicas ou privadas, dependem do trabalho de profissionais da contabilidade para serem sustentáveis. Negócios sustentáveis e prósperos geram emprego e renda, revertem em desenvolvimento. É um impacto direto à economia.
PE- Com os avanços tecnológicos, muitas funções estão sendo parcial ou até mesmo completamente substituídas. Como é isso na contabilidade?
Marisa – A tecnologia impacta diretamente no nosso trabalho cotidiano e permite que os profissionais tenham condições de sair da esfera operacional para se dedicarem ao que fazem de melhor. Precisamos dominar as ferramentas tecnológicas para filtrar e traduzir dados e informações geradas pelos sistemas em favor das organizações, auxiliando na tomada de decisões. Por isso também a importância da educação continuada, uma das nossas prerrogativas. Estamos atentos à demanda da atualização, aos nossos desafios e temos promovido cursos, seminários, palestras e outros eventos voltados a esses temas. Só no ano passado, o CRCSC realizou 62 eventos, envolvendo, ao todo, mais de 40 mil participações
PE – Um dos papéis do CRCSC é fiscalizar a atuação profissional. Como tem sido este trabalho?
Marisa – A fiscalização é uma das prerrogativas do CRCSC, somado ao registro e à educação profissional continuada. Estamos muito empenhados, nessa gestão, em assegurarmos que os trabalhos desenvolvidos estejam de acordo com as normas vigentes, por meio da fiscalização. Ao mesmo tempo, o nosso foco principal é na prevenção e na orientação dos profissionais, de maneira a informar e capacitar para evitar os problemas. Ou seja, muito mais do que punir eventuais equívocos, queremos atuar de forma educativa.
PE – Marisa, você é a segunda mulher na história do CRCSC a assumir a presidência da entidade. A contabilidade ainda é uma profissão essencialmente masculina? Como foi para você se destacar nesse meio?
Marisa – Esse cenário em termos de gênero já mudou ao longo das últimas décadas. Eu atuo na docência e uso como exemplo a sala de aula, que é onde estou atuando há mais de 20 anos. Quando comecei a dar aulas, a gente observava um volume mais expressivo de homens nos cursos de Ciências Contábeis e isso se refletia no mercado. No entanto, o que se viu foi uma inversão: hoje as salas são majoritariamente femininas e isso também se reflete no mercado. No primeiro ano de existência do CRCSC (1946-1947), dos 400 profissionais inscritos na entidade, apenas sete eram do sexo feminino. Atualmente, as mulheres representam 44% dos profissionais registrados no Conselho, ou seja, quase metade da carreira. Mas embora estejamos conquistando espaços muito importantes, ainda temos muito a fazer em termos de ocupar espaços nos papéis de lideranças classistas, merecidos pelos profissionais independentemente do gênero.