No mês da criança, o premiado grupo catarinense Eranos Círculo de Arte – referência em trabalhos cênicos interativos dedicados à infância – fez sua estreia nacional de “Os Pequenos Mundos” no dia 1º de outubro, sexta-feira, em formato on-line.
A obra integra a programação digital do Centro Cultural Banco do Brasil e é um convite a pessoas de todas as idades a participarem de uma aventura por mundos encantados, criados com caixas de papelão.
A pessoa responsável pela criança recebe, antecipadamente, um tutorial com uma lista de materiais e orientações para preparação de um espaço cenográfico, em casa, que servirá como ambientação para a experiência teatral. Cada apresentação tem duração aproximada de 35 minutos. O espetáculo é indicado para crianças de 3 a 8 anos. Este projeto tem patrocínio do Banco do Brasil.
O espetáculo fica em cartaz até 21 de novembro, aos sábados e domingos com sessões às 15h e às 17h, às quintas-feiras com apresentações às 10h, e nas sextas-feiras às 15h. As sessões de domingo possuem acessibilidade com intérprete de libras e audiodescrição. Toda temporada acontece pela plataforma Zoom e são permitidos até 20 ingressos por sessão – cada bilhete virtual dá direito à participação de toda família.
Os ingressos custam R$30 (inteira) e R$15 (meia) e podem ser adquiridos no site www.bb.com.br/cultura. O valor arrecadado com a bilheteria será doado integralmente para a Associação Colmeia de acolhimento infantil – Belo Horizonte.
“Em qualquer lugar que uma criança se encontre, ela vai criar uma pequena história, um pequeno mundo com aquilo que está a sua volta: pode ser suas próprias mãos, uma sombra, caixas, achados da natureza – plantas, folhas, galhos. A potência criativa é muito natural para as crianças”, explica Sandra Coelho, atriz, psicóloga e integrante do Eranos Círculo de Arte.
Durante o processo de criação do espetáculo, o grupo distribuiu kits com caixas de papelão de tamanhos diversos para algumas famílias e pediu que registrassem o que os filhos faziam com os materiais, quais brincadeiras propunham, quais reações, histórias, etc. “A relação que as crianças estabelecem com as caixas – compreendidas aqui como brinquedos não-estruturados, ou seja, não possuem uma funcionalidade específica -, foi o ponto de partida para a criação da peça”, completa a atriz.
Fundado em 2009 por Sandra Coelho e pelo diretor Leandro Maman, é a partir de 2014 que o Eranos Círculo de Arte inicia um processo de investigação sobre o conceito de protagonismo da criança, em especial da primeira infância nas artes presenciais, com pesquisas permanentes em escolas públicas.
“A ideia da criança como figura central inicia já na concepção das peças, quando vamos até elas e propomos uma espécie de criação colaborativa através de oficinas criativas. Nas apresentações as crianças são convidadas a participar, opinar, e estar muito próximas da cena e dos atores, já que todas as obras têm caráter intimista”, explica Sandra Coelho.
Em “Os Pequenos Mundos” o grupo trabalha pela primeira vez com a participação online das crianças. Para aproximar da experiência teatral, a companhia de Itajaí (SC) propõe que aconteça a preparação para o espetáculo dentro da casa do espectador, por meio de tutoriais que auxiliam os adultos na construção de um cenário com o que tiverem à mão, criando assim uma experiência física, tátil e extra cotidiana, para além das telas.
“É importante que a cenografia se aproprie da narrativa infantil: crianças são os principais autores da produção desse pequeno espaço cênico. E quando começar a peça, ela vai ter acesso ao pequeno mundo que o adulto construiu para ela ou junto com ela”, diz.
Em “Os Pequenos Mundos”, as crianças são levadas a uma aventura por mundos de fantasia feitos de caixas de papelão. A narrativa é conduzida por bonecos animados pela atriz Sandra Coelho e confeccionados por Leandro Maman.
“Desde a fundação do grupo a gente trabalha com conceitos de teatro de animação em projeções digitais, e agora com a pandemia, a gente direcionou a pesquisa de ‘Os Pequenos Mundos’ para construção de bonecos animados. É um espetáculo de natureza híbrida, a gente tem em cena uma atriz, ao vivo, e a animação, com diversas técnicas: boneco de vara, boneco de mesa, todos confeccionados de maneira autoral”, explica Leandro Maman.
Segundo Sandra, os tutoriais incentivam que os cuidadores construam, com caixas de papelão, um dos bonecos do espetáculo. Ainda durante a peça, Sandra dá indicações para as crianças buscarem, no ambiente, objetos que os adultos já deixaram previamente preparados. A dramaturgia apresenta também abertura para a participação da plateia.
“Vou pedir que façam ou que me mostrem coisas, como objetos, suas mãos etc. O microfone delas poderá ser aberto para quando quiserem se manifestar. Vai ter uma música com o nome das crianças que será cantada ao final do espetáculo. Elas de verdade participam e são parte fundamental do espetáculo. E os pais atuam como facilitadores da experiência”, diz.
A tecnologia não é novidade para o Eranos, habituado a utilizá-la em outros trabalhos presenciais da companhia como forma de conexão com o público. Em “Os Pequenos Mundos”, o desafio para o grupo foi tornar o ambiente digital uma ferramenta interativa. “A tecnologia não é um fim em nossas peças. Ela é um meio que a gente usa para se relacionar com as pessoas.
Portanto, ‘Os Pequenos Mundos’ não é para ser assistido por uma plataforma. É um espetáculo para participar. Como de fato entrar em contato com a criança e se fazer o mais presente possível pela tela? Esse tempo serviu para que a gente pudesse amadurecer e refletir sobre esse lugar da tecnologia e sobre aquilo que é o cerne do nosso trabalho: a relação”, conclui Sandra Coelho.
A autoria e pesquisa do espetáculo Os Pequenos Mundos são de Sandra Coelho e Leandro Maman, atuação ao vivo de Sandra Coelho, direção geral e confecção de bonecos de Leandro Maman, supervisão artística de Adriano Guimarães, assessoria de animação de Luiz André Cherubini, animação dos bonecos por Sandra Coelho e Leandro Maman, operação técnica por João Freitas e Pietra Garcia, produção por Eranos Círculo de Arte.
ERANOS CÍRCULO DE ARTE – http://eranos.com.br/
Original de Itajaí/SC, Eranos – Círculo de Arte é um coletivo de artistas que produz e pesquisa arte e suas interfaces entre o teatro de rua, o teatro de animação, a performance, fotografia e poesia. A companhia investe também em processos criativos com linguagem onírica e traz como eixo recorrente em seus trabalhos o uso de aparatos multimídia.
Desde 2009 a companhia desenvolveu mais de 20 criações entre espetáculos e performances e participou de reconhecidos festivais como FIL RJ – Festival de Intercâmbio de Linguagens (2021, 2019 e 2016), Festlambe – Festival Internacional de Teatro Lambe-lambe de Valparaíso (2016), no Chile; Festival Novo Olhar – Jundiaí (2018), FILO – Festival Internacional de Londrina (2016), FITA – Festival Internacional de Teatro de Animação (2016), XII Feverestival – Festival Internacional de Teatro de Campinas (2016) e Festival Internacional de Teatro de Rua de Porto Alegre (2014) entre outros.
Além de prêmios como o Iberescena (2017), Elisabete Anderle (2017, 2019 e 2020), Myriam Muniz (2015), Arte como Respiro – Itaú Cultural (2020), FUNARTE Respirarte (2020).
A partir de 2014, o grupo passou a investigar sobre o uso de tecnologias digitais para a primeira infância. Para o grupo, o teatro é uma maneira de democratizar o acesso à cultura, além de contribuir para a formação de plateia, trazendo desde cedo a experiência da fruição artística.