Entrevista | “Estamos vivenciando um novo ciclo no Porto de Itajaí. O vento agora sopra a favor do progresso”

João Paulo Tavares, superintendente do Porto de Itajaí

 

O Porto de Itajaí vive um novo momento e a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta última quinta-feira, 29, marcou esse novo momento. Na oportunidade, o presidente anunciou a Medida Provisória (MP) que cria a Autoridade Portuária de Itajaí S.A. (API), uma empresa pública federal de capital fechado, vinculada ao Ministério de Portos e Aeroportos (MPA). Com a MP, o Porto de Itajaí passa a administrar e explorar sua infraestrutura pública portuária, promover a eficiência operacional, a segurança das operações portuárias e a proteção ambiental; além de arrecadar tarifas e demais receitas pela prestação de serviços portuários.

Além da MP, foi anunciado um investimento de 844 milhões de reais voltado para a infraestrutura e a modernização do porto, que está sob gestão do Governo Federal desde janeiro deste ano. Os investimentos têm como foco a modernização, a segurança, a eficiência logística e a ampliação da capacidade portuária. Com esses aportes, o governo pretende impulsionar a movimentação de cargas, gerar empregos e fortalecer a economia local. Acompanhe a entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, com o superintendente do Porto de Itajaí, João Paulo Tavares.

 

 

Pelo Estado — O Porto de Itajaí tem sido palco de intensas movimentações e

mudanças recentes, com foco na sua reestruturação e retomada plena das

operações. Em qual momento o Porto de Itajaí se encontra atualmente?

João Paulo Tavares – Estamos vivenciando um novo ciclo no Porto de Itajaí. Após um período de estagnação, voltamos a operar tanto no cais público quanto na área arrendada à JBS, e os resultados são extremamente positivos para toda a cadeia logística e para a economia catarinense. No primeiro quadrimestre de 2025, alcançamos um faturamento expressivo de R$ 64,4 milhões. Estamos projetando encerrar o ano com cerca de R$ 180 milhões em receitas, superando, em apenas seis meses, todo o faturamento de 2024. Esses números refletem a decisão estratégica do presidente Lula em federalizar o Porto de Itajaí, resgatando sua governança e inserindo-o novamente no centro das políticas

públicas portuárias. Por meio da Autoridade Portuária de Santos (APS), estamos

promovendo uma gestão técnica, eficiente e voltada ao desenvolvimento sustentável do

setor. Vale lembrar que ficamos um ano e meio sem movimentações no cais público

durante o governo anterior. Hoje, Itajaí retoma sua vocação como um dos principais

hubs logísticos do Brasil.

 

Pelo Estado — Em janeiro deste ano, a Autoridade Portuária de Santos (APS)

assumiu a gestão do Porto de Itajaí. O que essa mudança representa para Santa

Catarina, para o município e para a gestão portuária?

João Paulo Tavares – A federalização do Porto de Itajaí trouxe previsibilidade, segurança jurídica, estabilidade institucional e, acima de tudo, capacidade de investimento. A gestão portuária é uma prerrogativa do Governo Federal, e, ao assumir essa responsabilidade, o governo Lula também passou a arcar com a folha de pagamento da Superintendência, que antes era custeada pelo município. Estamos em processo de elaboração do projeto de lei que criará uma empresa pública federal para gerir o Porto com autonomia administrativa e financeira, respeitando o quadro atual de servidores e suas funções estratégicas. Até lá, permanecemos vinculados à APS, que também administra o Porto de Santos — maior da América Latina e referência em performance e rentabilidade. Essa transição nos conecta a um modelo de excelência e gestão moderna.

 

Pelo Estado — Quais os principais resultados desde essa mudança de gestão até

aqui? Qual a capacidade operacional do porto e os planos de expansão?

João Paulo Tavares – Herdamos um porto parado, endividado e com a infraestrutura comprometida. O primeiro passo foi resolver passivos imediatos: quitamos uma dívida de R$ 48 milhões com a empresa de dragagem e renovamos o contrato, assegurando a navegabilidade do canal. Agora, temos um plano de investimentos robusto, que ultrapassa R$ 689 milhões. Entre as obras previstas estão a dragagem do canal do rio Itajaí-Açu, retirada do casco do navio Pallas, naufragado no canal de acesso a mais de 130 anos, readequação do molhe de Navegantes, melhorias na bacia de evolução, contenção das margens do canal, modernização das subestações de energia e iluminação, aquisição de novos equipamentos e a construção do píer para cruzeiros. Tudo isso é fundamental para

aumentar nossa capacidade operacional, receber navios de maior porte e gerar

empregos de qualidade. O Porto de Itajaí está retomando seu protagonismo no setor

portuário nacional.

 

Pelo Estado — Em 2024, a JBS/Seara assumiu a operação de contêineres na

área arrendada. Como isso impactou na movimentação e quais os avanços já

percebidos?

João Paulo Tavares – A entrada da JBS Terminais foi decisiva para a retomada da movimentação de contêineres no Porto de Itajaí. Em março de 2025, movimentamos 1.254.511 toneladas de cargas — um crescimento de 10% em comparação ao mesmo mês do ano anterior. Desse total, 1.074.178 toneladas foram em contêineres, totalizando 113.959 TEUs. Esse resultado demonstra o reaquecimento da nossa operação e seu impacto direto na economia regional. Mais cargas significam mais receita para o município e mais

oportunidades para os trabalhadores portuários. Recentemente, chegaram ao terminal

dois guindastes móveis (MHC) modelo ESP.9, da Konecranes Gottwald, com

capacidade para 125 toneladas e alcance de até 61 metros — equipamentos de última

geração que ampliam nossa eficiência operacional. E nesta semana, o Porto de Itajaí fez história mais uma vez ao receber o maior navio automotivo do mundo, o BYD Shenzhen, transportando mais de 7 mil veículos elétricos da China ao Brasil. A chegada desse gigante simboliza o novo momento do Porto: competitivo, estratégico e inserido nas grandes rotas do comércio global.

 

Pelo Estado — Com esse novo momento do Porto de Itajaí, quais são as

perspectivas futuras de investimentos e obras?

João Paulo Tavares – O futuro é promissor. Estamos com R$ 689 milhões em investimentos planejados, voltados à infraestrutura, segurança operacional, sustentabilidade e ampliação da nossa capacidade logística. Esses recursos serão aplicados para consolidar o Porto de Itajaí como referência em carga de alto valor e um dos mais modernos e eficientes do país.

Vale lembrar que, nos últimos anos, o Porto de Itajaí conquistou títulos importantes,

como o reconhecimento pela ANTAQ como o melhor Porto Nacional em Eficiência

Operacional e diversos prêmios de sustentabilidade portuária, reforçando nosso

compromisso com a excelência. O apoio do Governo Federal nos dá condições reais de ampliar nossa atuação, gerar empregos qualificados, atrair novas cargas e posicionar Santa Catarina como referência logística. Estamos trabalhando para que o Porto de Itajaí volte a ser um símbolo de pujança econômica e desenvolvimento regional. A retomada do Porto Público não é apenas uma vitória administrativa — é uma conquista estratégica para todo o setor portuário brasileiro. O vento agora sopra a favor do progresso.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.