Rolando Christian Coelho – 9 de fevereiro de 2023 – O perigo das ações do presidente Lula

Presidente Lula da Silva (PT) já demonstrou que está francamente imbuído do desejo de alinhar sua gestão com os princípios da esquerda latino-americana. Trata-se, nada mais, do que um projeto desencadeado a partir de 2003, quando ele assumiu seu primeiro mandato. Na ocasião, Lula acabou, em parte, sendo obstruído por uma forte pressão do capital internacional. Como consequência, tivermos desdobramentos como os escândalos do mensalão, Lava Jato e Petrolão, que nada mais foram do que uma resposta do chamado “sistema” à tentativa de Lula de emergir na América Latina como uma espécie de Simon Bolivar do século XXI.
Vivido tudo o que se viveu, passado tudo o que se passou, Lula ressurge com o mesmo ideal, e, para isto, sabe que precisa de apoio. Neste sentido, tem focado suas relações primárias com países como a Argentina, Venezuela e Cuba, cujos governos são francamente adeptos do pensamento esquerdista.
Do ponto de vista da economia, não há nada de errado em se criar blocos políticos, que acabam se transformando em blocos econômicos. O mundo está cheio deles, muitos dos quais até mesmo com uma moeda única, como é o caso do europeu. O grande problema do Brasil é que não temos cacife para protagonizarmos um bloco político e econômico de esquerda, e tampouco nossos prováveis parceiros têm este potencial. A insistência nesta tese no levará fatalmente a muitos isolamentos, o que poderá ser catastrófico para nossa economia, e, de forma natural, para toda a sociedade.
Lula não pode ser ingênuo ao ponto de imaginar que o Brasil irá priorizar negociações com a Venezuela, por exemplo, e ainda assim continuar negociando normalmente com os Estados Unidos, nosso principal parceiro comercial. Trata-se de uma esperança sem nexo, na medida em que a economia americana é responsável por 25% do PIB mundial e a do Brasil por apenas 2%. Na prática, não temos poder de barganha, e mesmo com todos os aliados possíveis não chegaríamos sequer à metade do que produz apenas os Estados Unidos. Somados aos americanos, há ainda o mercado europeu e o asiático, grandes consumidores do Brasil, e que não são afeitos nenhum pouco a protecionismo, que é a mola-mestre de qualquer bloco econômico, como o que vem sendo proposto por Lula.
O grande perigo de Lula é que ele parece disposto a ir para o tudo ou nada, mesmo porque sabe que não tem mais tempo para apostas. No auge de seus 77 anos, nosso presidente carrega consigo o desejo explícito de seus anos sindicais. Quer ver a América Latina irmanada, como se fosse uma só, vivendo por conta própria e se impondo diante do mundo. Sonho válido se tivéssemos produção industrial e tecnológica suficiente para bancarmos o projeto, o que nem de longe é o caso. O Brasil, que é notadamente vocacionado ao agronegócio, por exemplo, não produz sequer adubo suficiente para germinar nossas lavouras. Com 8 mil quilômetros de costa, outro exemplo, recebemos menos turistas por ano do que qualquer praia famosa da Europa que tenha dez quilômetros de extensão, e por aí afora.
Se quisermos ir para a guerra econômica, primeiro será preciso sermos autossuficientes. Do contrário, os boicotes econômicos irão desestabilizar nossa economia, gerando desemprego e ainda mais vulnerabilidade social. Não se trata de qual batalha enfrentar. Se ela será de esquerda ou de direita. Se trata de estarmos pronto para o embate, e o Brasil, neste momento, não está.

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