Rolando Christian Coelho, 02/02/2022
Bolsonaro, Lula e Moro e a realidade de 2022
Em que pese o rosário de candidaturas presidenciais que vem se desenhando no país há cerca de um ano, há uma tripolarização bastante evidente com vistas à conquista do Palácio do Planalto neste ano, figurada através dos nomes do presidente Jair Bolsonaro (PL), do ex-presidente Lula da Silva (PT), e do ex-juiz federal Sérgio Moro, que, por enquanto, está filiado ao Podemos.
Bolsonaro e Lula se destacam com naturalidade. São as duas principais figuras antagônicas no país nos últimos anos, e deverão continuar sendo por muito tempo, por conta das divergências ideológicas que os nutre.
Sérgio Moro tenta construir seu legado antagonizado a ambos. Neste sentido, insiste na tese do combate a corrupção, tendo como principal alvo Lula da Silva, como também exalta a necessidade da ética na gestão pública, neste quesito tendo como alvo Bolsonaro.
Moro quer se portar como a Virgem Maria do processo eleitoral. Sonha em esculpir o perfil de pessoa inatingível, acima do bem e do mal, incorruptível e infalível. Para consolidar este perfil irá precisar, indubitavelmente, do apoio da grande mídia.
Junto as bases da sociedade não conseguirá levar seu projeto adiante com chances de êxito, simplesmente porque as pessoas, de um modo geral, não são inatingíveis, incorruptíveis e infalíveis. De todo modo, pessoas gostam de super heróis, e se tem uma coisa que a mídia faz bem é vender filmes de super heróis.
Por ora, trata-se de um cenário em aberto, pelo simples fatos dos grandes grupos políticos e econômicos não terem se decidido ainda em relação a 2022. O chamado Centrão, que reúne grande parte das forças políticas de Brasília, tem tudo para ser o ponto de desequilíbrio do pleito nacional deste ano.
Bolsonaro tem feito de tudo para mantê-lo a seu lado, mas o que não falta no Centrão são líderes querendo comer de colher grande em um eventual governo Lula, como também há os que apostem em um novo movimento social, a exemplo de 2018, só que através de Sérgio Moro, e não de Bolsonaro.
Números favoráveis a Lula são meia realidade
Em princípio, o cenário político indica vitória do ex-presidente Lula da Silva na disputa pela presidência, possivelmente ainda no primeiro turno. A história, no entanto, não é bem assim. Quem manda na política nacional são as grandes corporações. Mesmas corporações que fizeram das tripas coração para tirar o PT do poder.
Não há muito sentido em promover um desgaste nacional que já dura quase duas décadas para agora devolver o poder ao PT. Não à toa, Lula tem insistido na tese de ter Geraldo Alckmin como seu candidato a vice. É que Alckmin é um dos representantes destas grandes corporações, o que daria relativa segurança de que Lula ficaria sob controle, caso chegasse ao poder.
Fazer dobradinha com Alckmin é fundamental para Lula
Caso Lula feche dobradinha com Geraldo Alckmin, suas chances de vitória de fato passam a ser reais. Do contrário, o ex-presidente vai ter muita dificuldade em se viabilizar, porque o que não falta na esquerda nacional são aloprados, que não inspiram nenhuma confiança ao chamado ‘sistema’.
Quem mais perde diante de uma aproximação entre Lula e Alckmin é Sérgio Moro. Por conta disto, quanto mais pura a esquerda se mantiver na disputa pelo Palácio do Planalto, maiores as chances de Moro chegar ao segundo turno. É que há uma tendência natural que a massa de inconsciente coletivo que é simpatizante de Alckmin, se irmane a Moro, caso o ex-governador de São Paulo fique de fora da dobradinha com Lula.
Destino de Bolsonaro está preso ao humor do Centrão
O destino do presidente Jair Bolsonaro está preso ao Centrão, ou pelo menos a boa parte dele. O que Bolsonaro não pode, em hipótese alguma, é perder o Centrão por completo. Se isto acontecer, ele corre até mesmo o risco de não chegar ao segundo turno da eleição presidencial.
Este grupo é composto por cerca de 200 deputados, filiados a legendas como Progressistas, Republicanos, Solidariedade, PL e PTB, como também PSD, MDB, DEM, Pros, PSC, Avante e Patriota.
Há muita dissidência no Centrão, mas o grupo é basicamente composto por políticos ligados ao fisiologismo, a famosa turma do toma cá, da lá. As chances de integrantes deste grupo migrar para Lula são muito grandes, por motivos óbvios.
Se grande mídia fechar com Moro, ele passa a ter reais chances
Os desdobramentos que se seguirão serão fundamentais para ditar o ritmo da campanha presidencial deste ano. A grande mídia parece pré-destinada a desgastar Jair Bolsonaro, como já vem fazendo há tempos.
O problema de Bolsonaro, na verdade, nem é este. Mas ele se complicará se esta mesma grande mídia começar a endeusar Sérgio Moro, o colocando como uma espécie de Salvador da Pátria, como foi feito com Fernando Collor em 89.
Caso isto se confirme, as chances de Moro ir para o segundo turno, no lugar de Bolsonaro, são reais, ocasião em que ele antagonizaria com Lula. É ai que Alckmin poderia fazer a diferença na chapa de Lula. Sozinho contra Sérgio Moro, Lula estaria em maus lençóis, porque teria que lutar contra a grande mídia, como também contra os bolsonaristas ao mesmo tempo.