Pelo Estado Entrevista | Carmen Zanotto: “A cobertura vacinal baixa é um fator que impacta diretamente na taxa de ocupação dos leitos do estado em função das doenças respiratórias”

Foto: SES/Divulgação

Carmen Zanotto – Secretária de Saúde

 

Santa Catarina vive um momento delicado na saúde. No último mês, a superlotação dos hospitais, falta de leitos no estado, pane do sistema de atendimento e a situação precária em que se encontram algumas unidades foram motivos de críticas por parte da população e imprensa.

A impressão que dá é a de que o governo anda na corda bamba no setor, se equilibrando como pode, tomando medidas de emergência para consertar os problemas mais urgentes e pensando rápido, para que o impacto para a população e para a atual gestão sejam os menores possíveis.

Só esta semana, o governador Jorginho Mello (PL) e a Secretária de Saúde do Estado, Carmen Zanotto (Cidadania), anunciaram a abertura emergencial de leitos infantis, colocaram o estado à disposição para transferência de pacientes para outros estados – se preciso fosse -, a contratação de mais profissionais e a ampliação do número de unidades hospitalares credenciadas para atendimento de pacientes da rede pública, entre outras medidas.

Tudo isto com foco em sanar os problemas de agora. Porém, não se sabe se tais medidas serão suficientes. O que o governo pretende a longo prazo para que cenários como o de agora não se repitam e os principais desafios da saúde foi o que a Secretária de Saúde, Carmen Zanotto, contou à coluna. Confira:

 

Pelo Estado – Como o estado pretende resolver o problema da falta de leitos a longo prazo?

Carmen Zanotto – Temos várias frentes para enfrentar, desde a atenção primária até a alta complexidade. Temos que iniciar pelas consultas de pré-natal para que possamos monitorar mais de perto as gestante de alto risco, trabalhar ainda mais nos próximos anos a questão da dengue, porque a cobertura vacinal baixa é um fator que impacta diretamente na taxa de ocupação dos leitos do estado em função das doenças respiratórias, principalmente em pessoas com comorbidades e idosos. Paralelo a isto, estamos buscando ampliar as estruturas hospitalares com capacidade para leitos de UTI, em especial da pediatria. Precisamos de mais médicos pediatras e neonatologistas, porque também temos a questão da formação dos profissionais. Precisamos de pediatras nas portas da unidade de pronto atendimento porque não ter unidades referenciadas também faz com que as emergências fiquem sobrecarregadas.

 

PE – A falta de leitos impacta, de alguma forma, no andamento do programa lançado pelo governo para zerar a fila de cirurgias eletivas no Estado?
Carmen – Neste momento não, porque não faltou nenhum leito de UTI. Mas se for necessário, teremos que parar por um instante as cirurgias eletivas para dar prioridade aos pacientes de máxima urgência.

 

PE – Sobre o programa que pretende zerar a fila de cirurgias eletivas no estado, é possível detalhar como ele está sendo realizado e nos atualizar sobre os dados? Quantas cirurgias já foram realizadas e quantas pessoas ainda estão na fila de espera?

Carmen – Estamos contando com a ajuda dos municípios para identificar os pacientes que estão aguardando cirurgia. Nós temos mais de 35% dos casos atendidos, incluindo pacientes oncológicos, que recebem um olhar diferenciado. O serviço de atendimento não demora mais que 60 dias e algumas das unidades cirúrgicas oncológicas já estão aptas a receber pacientes de outras unidades para tratamento, como é o caso do Hospital Santa Terezinha, de Joaçaba. Estamos preparando um relatório para apresentar no mês de junho mostrando que já não há nenhum caso anterior a 30 de janeiro sem atendimento.

 

PE – Santa Catarina tem 224 vagas no programa Mais Médicos. Como será feita a seleção e distribuição dos profissionais pelo estado?

Carmen – O edital lançado pelo Ministério da Saúde para o Programa Mais Médicos é para reposição das vagas que estão desocupadas. Os municípios que aderiram ao programa, ainda em 2013, foram contemplados com 571 médicos, porém destas vagas, atualmente 224 estão desocupadas. O retorno destes profissionais é fundamental para reforçar o atendimento na Atenção Primária, principalmente nas cidades do interior, onde há dificuldades de contratação de médicos. Cada cidade catarinense vai contar com no mínimo um médico do programa – 15 delas terão no mínimo 4 médicos. Itajaí está com 13 vagas, na sequência das cidades com mais vagas no estado estão: Brusque (9), Blumenau e Palhoça (8), Içara (7) e Braço do Norte, Chapecó, Florianópolis e Mafra (5).

 

PE – Há algum projeto específico na área da saúde voltado para os municípios do interior de Santa Catarina?

Carmen – Além de reforçar a atenção primária à saúde com a chegada de mais médicos, nós estamos contando com a ajuda das secretarias de saúde dos municípios para identificar casos mais específicos para que o estado venha a dar o tratamento adequado, seja nas unidades de saúde locais ou em cidades próximas com uma estrutura hospitalar mais capacitada, como no caso de pacientes cardíacos, oncológicos ou de ortopedia.

 

PE – Há pouco tempo foram apresentados dados sobre a possível falta de tratamento de radiologia, tão necessário para pacientes da oncologia. Pelo relatório, há poucos aparelhos para atender toda a população. O que será feito em relação a isso?

Carmen – O que acontece é que nós apresentamos um relatório sobre a necessidade da programação da substituição de dois aparelhos de radioterapia, um do Hospital Tereza Ramos, de Lages, e outro do Hospital de Jaraguá do Sul. Nosso pedido foi para instalação, visando reduzir distâncias, não por fila de espera. Porque, por exemplo, quem mora em Rio do Sul precisa ir até Blumenau para fazer o tratamento de radioterapia. Outro exemplo que temos é no Hospital Santo Antônio, de Blumenau, que está com capacidade de atendimento, porque o equipamento de radioterapia está com tempo ocioso.

 

PE – Nestes 150 dias de gestão, quais foram os maiores desafios da saúde de Santa Catarina?

Carmen – Foram e são muitos. Estamos discutindo a questão do avanço das cirurgias eletivas, porque é algo muito dinâmico, e precisamos garantir este acesso da população às cirurgias. Precisamos, junto com os municípios, regularizar os pagamentos que ficaram sem ser efetuados e a contratação de profissionais especializados. Hoje, no estado, temos uma demanda para atender pacientes ortopédicos e precisamos de médicos capacitados para realizar estas cirurgias. Temos o desafio da cobertura vacinal que está muito baixa, apesar de ainda estarmos acima da média nacional, e o fato das pessoas não se vacinarem traz bastante reflexo para o nosso sistema. O aumento de casos de dengue demanda que o estado precise realizar um trabalho de fiscalização em residências, quando poderia estar cuidando de espaços públicos com mais atenção e agilidade. Enfim, são problemas que vão surgindo na caminhada e que vamos buscando resolver da melhor maneira.

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